domingo, 23 de janeiro de 2011

Miss Imperfeita(por Martha Medeiros)


"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se
isso é possível, me ofereço como piloto de testes.
Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.

Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional,
mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana,
vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das
refeições, levo os filhos ao colégio e busco, almoço com eles, estudo
com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas
amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a
toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho
meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos
domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e
ainda faço escova toda semana - e as unhas!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas
que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada, aliás. Existe a Coca zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe
apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo
para os outros.
Seu pai e sua mãe acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que
desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse
direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher.Se não
aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, adeus vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre
politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é
atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para
dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo
para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias!
Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber
aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para
fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para
seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente
organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou
pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina? Destina-se há ter o tempo a favor, e
não contra.

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